22 outubro 2006

Victor Jara: o menestreu da Unidade Popular

VICTOR JARA é um dos compositores que mais inspiraram a criação do Amistad. Suas canções com temáticas sociais e políticas se tornaram verdadeiros hinos contra a repressão e as injustiças sociais. O texto abaixo é de Augusto Buonicore e descreve os últimos momentos deste ícone da cultura latino-americana.

Na manhã do dia 11 de setembro de 1973 a notícia do golpe militar já havia corrido todo o país. Seguindo uma orientação da CUT chilena, Victor Jara se dirigiu apressado à Universidade Técnica para se juntar aos estudantes e professores que prometiam resistir. O Campus foi cercado por tropas do exército. A madrugada foi de terror, ouvia-se tiros e explosões por todos os lados. Os que tentaram escapar do cerco foram imediatamente abatidos. Victor buscou, então, elevar a moral dos sitiados usando a sua melhor arma: o canto.Na manhã do dia 12 de setembro os tanques iniciaram o ataque contra a universidade. Depois de uma luta desigual, os resistentes foram obrigados a se render. Reunidos no pátio, forçados a se deitarem com as mãos na cabeça, começaram a ser espancados e humilhados. A multidão foi levada até o Estádio Chile. Mal chegou ao Estádio Victor foi reconhecido por um oficial fascista que lhe disse "Você é aquele maldito cantor, não é?". Antes que pudesse responder foi barbaramente agredido e conduzido a um local especial do estádio - dedicado aos militantes mais perigosos. O destino de Victor Jara já estava selado.Os militares o levaram arrastado ao porão onde foi novamente espancado e torturado. Quando foi reconduzido às arquibancadas seu rosto estava ensangüentado e mal podia andar ou falar. O clima ali era dantesco. Muitos dos prisioneiros tinham surtos de loucura, tentavam escapar e eram executados. Outros simplesmente se suicidavam.No dia 14 de setembro os prisioneiros começaram a ser transferidos para o Estádio Nacional do Chile. Victor pressentindo que aqueles seriam os seus últimos momentos, pediu papel e caneta e no inferno escreveu o seu derradeiro poema: "Somos cinco mil/ nesta parte da cidade./ Somos cinco mil./ Quantos seremos no total/ nas cidades e em todo o país?/ Somente aqui, dez mil mãos que semeiam/ e fazem andar as fábricas./ Quanta humanidade/ com fome, frio, pânico, dor,/ pressão moral, terror e loucura!/.../ Que espanto causa o rosto do fascismo!/ (...)/ É este o mundo que criaste, meu Deus?/ Para isto seus sete dias de assombro e de trabalho?" Mal acabou de escrever seus últimos versos os carrascos vieram buscá-lo. Os companheiros de infortúnio conseguiram milagrosamente salvar o seu poema. Novamente começou a sessão de espancamento. Um oficial fascista gritou várias vezes: "Cante agora, se puder, seu filho da puta!". Victor, quase sem vida, ainda conseguiu reunir suas últimas forças para cantar a estrofe do hino da Unidade Popular, "Venceremos!". A última etapa de seu martírio começou ali mesmo.Brutalmente agredido, tendo as mãos quebradas, foi arrastado aos porões do Ginásio. Esta foi a última vez que o viram vivo. Dois dias depois seis corpos desfigurados e perfurados a bala foram achados na periferia na cidade. Um deles era do compositor e militante comunista Victor Jara.

Veja também o vídeo de Victor Jara no Perú: http://www.youtube.com/watch?v=UFCFteilx04

Amistad, contato: mleandro17@hotmail.com

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