Mas a partir da queda das diversas ditaduras militares que dominavam nosso país e nossos vizinhos, a música de protesto foi perdendo sua razão de existir, principalmente com o avanço dos paradigmas da globalização e do jeito capitalista de viver. Sim, hoje somos, em nossa grande maioria, captalistas, assumamos ou não. Trouxemos para nossa vida cotidiana hábitos de consumo e ideologias tipicamente capitalistas. Sabemos da exata importância da propriedade individual e a queremos com convicção. E isto é ruim? Claro que não! Mas então, como situar na atualidade músicas que pregam o socialismo, de forma explícita ou não? Essa é a grande questão a ser resolvida pelos grupos que continuam a fazer música latino-americana, principalmente a reconhecidamente rebelde música dos países da América do Sul.
Um dos possíveis novos papéis da música latino-americana pode residir em um paradoxo. Todos sabemos da importância da globalização, seja no campo do conhecimento, da aproximação dos povos e das vantagens econômicas do comércio. Mas sabemos também que a mesma globalização que facilita a vida, acaba criando padrões de comportamento mundiais que vêm tentando exterminar as culturas locais. Temos sido impelidos a adotar costumes impostos pela mídia em todo o globo e induzidos a abandonar nossas raízes. Talvez esse seja o pulo do gato para os atuais grupos latino-americanos. É certo que não há mais espaço (ou há pouquíssimo espaço, principalmente no Brasil) para o comunismo ou o socialismo radical (embora ainda haja espaço para o populismo ditatorial travestido de socialismo de Evo Morales ou de Hugo Chavez). Mas há uma necessidade urgente de resgatarmos nossas raízes, de preservarmos nossa identidade, os elementos formadores de nossa cultura. As próximas gerações podem estar sendo condenadas ao extermínio das individualidades em favor de uma padronização de gostos, costumes e hábitos de vida que priorizam o consumo desenfreado e pouco se importam com as particularidades culturais de cada povo.