Final de ano tem sempre a mesma essência. Confraternizações, reflexões, projetos para o ano que vai chegar. É muito comum que fiquemos pensando nas coisas que acertamos, pois queremos acertar ainda mais, e nas coisas nas quais nos equivocamos no ano que está prestes a terminar. Costuma ser assim em todos os apectos de nossas vidas. Mas como seria se de um ano para outro houvesse um vácuo? Se repentinamente o tempo parasse e passássemos um, dois, três anos sem fazer absolutamente nada, inertes? E pior, se tivéssemos consciência disso. Angustiante, não? Pois foi isso que aconteceu com o Amistad. Durante três longos anos, tive a certeza absoluta de que precisava fazer algo para não deixar morrer um sonho.
Mas que sonho é esse? Fazer música para mim é um sonho de criança. Com doze anos ele começou a se realizar. Foi com essa idade que entrei para o Coral da Cidade de Angra dos Reis. Participei desse grupo durante muito anos. Saí e retornei algumas vezes, nem me lembro quantas. O fato é que cantar é uma arte mas, ao meu ver, uma arte incompleta. Isso é apenas um ponto de vista meu. Mas não vejo que cantar por cantar seja tão gratificante assim. Reproduzir algo que muitas pessoas já disseram antes, mesmo que sejam mensagens importantes, não me parece algo muito criativo, ambora exija anos de estudo e dedicação. Quanto conheci uma música do cantor e compositor chileno Victor Jara - Manifiesto - que diz mais ou menos assim: "eu não canto por cantar nem por ter boa voz (ele realmente não tinha uma voz muito legal, era até meio chatinha mesmo), canto porque o violão tem sentido e razão", finalmente entendi o que eu queria da música. Foi assim que surgiu o Amistad. Após quase um ano de retorno do grupo (outros loucos como eu também têm ousado sonhar) sinto-me como despertando de um longo e angustiante sono, algo parecido com uma overdose de Maracujina. Ainda um pouco cambaleante e inseguro, mas feliz por sair de um estado de letargia artística na qual nunca mais quero entrar. O sonho chamado Amistad é um sonho absolutamente independente, sem compromisso com qualquer paradigma ou dogma. Nosso maior objetivo é a nossa própria reflexão, o autoconhecimento que todos buscam e que nós começamos a encontrar em nossas próprias canções. E é retornando no tempo e recomeçando a caminhar que, pedindo licença para me utilizar do título do livro de Marcelo Rubens Paiva, e tomando ainda sua principal mensagem que é a superação e a coragem de enfrentar a própria fragilidade, desejo a todos um FELIZ ANO VELHO.
Márcio Leandro
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